sábado, 25 de setembro de 2010

Partida de xadrez

           Nós, professores, participamos de uma partida com a maioria dos lances já decidida.  As autoridades de Ensino definem as regras do jogo e as estratégias para ganhá-lo.
Como numa partida de xadrez, elas não mostram seus planos logo de início e cada jogada é calculada e importante na conquista de território e poder.
Desde os primeiros movimentos, visando benefícios individualistas e ganhos futuros, "provocam" o debilitamento de nossa defesa com ameaças indiretas, às vezes por imprudência, outras por não pensar nas consequências a longo prazo. 
Neste jogo, nós somos meros peões, soldados na frente da batalha e nossos destinos são determinados por esses interesses, pouco importando se com isso nossas vidas serão mexidas e reviradas pelo avesso.  
Nossos passos são demarcados, somos pressionados e atacados como forma de diminuir nossa força. Programados para acatar e seguir as ordens, seremos aos poucos engolidos pelo sistema. De mãos atadas, sem poder de intervenção.
O que devemos fazer para reverter esta situação?
Não devemos perder esta oportunidade para lutar por várias razões: Primeiro: reunir nossas forças e agir em conjunto, cada um se apoiando no outro, pois só assim conseguiremos resultados significativos. Segundo: Não vamos recuar nem nos retirar do jogo. Não deixaremos nos intimidar pelo ataque do adversário. Terceiro: Devemos defender o nosso espaço com unhas e dentes. Não podemos admitir que decidam as nossas vidas de maneira tão leviana.
Esta é a melhor estratégia de se jogar porque se não arriscarmos nada, não conseguiremos obter nem, no pior dos casos, um empate.

             Um abraço
                                          

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Os Dozes Passos dos Professores Anônimos

Algumas vezes (ou muitas vezes), nós, professores, perdemos o controle sobre nossas emoções e ações quando estamos em sala de aula. A nossa paciência e tolerância (já no limite) se esgotam e temos vontade de xingar, bater, socar, esganar o primeiro que nos tira do sério. 
Para resolver essa situação, existe um Programa de Recuperação de Professores Anônimos constituído de Doze Passos* ou atividades pessoais. Estes "passos" incluem a admissão de que existe um problema, a busca de ajuda, autoavaliação, reparação de danos causados e o controle emocional.
Antes de agirmos de maneira impulsiva e agressiva, lembremos de seguir os doze passos:
1.      Em primeiro lugar, admitimos que somos impotentes perante a indisciplina escolar  e que perdemos o domínio sobre nossa sala de aula.
2.     Viemos a acreditar que somente um Poder superior a nós mesmos poderia devolver-nos à sanidade visto que o poder do Revotril, Fluxotina e Lexotan não estão mais resolvendo.
3.     Decidimos entregar nossa sala aos cuidados de Deus ou na ausência Dele, do Agente Escolar, do Coordenador Pedagógico, do Diretor, dos Guardas Metropolitanos ou de quem conseguir controlá-la.
4.     Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos na hora da raiva, do desespero e da angústia.
5.     Admitimos perante nós mesmos e perante o Coordenador Pedagógico, Diretor, Supervisor a natureza exata de nossas falhas, de nossa incompetência no planejamento de nossas aulas.
6.     Prontificamo-nos inteiramente a manter distância segura de todos esses objetos (apagador, giz, caneta, objetos cortantes e pontiagudos) no momento da raiva e do desespero a fim de não lançá-lo como arma.
7.     Humildemente rogamos a Ele que nos livre de nossas imperfeições e nos dê paciência, tolerância, persistência, calma e serenidade em todas as horas de tensão e angústia e, principalmente, nas duas aulas seguidas com a mesma turma.
8.    Pensemos diariamente nas consequências desastrosas de nossas ações impulsivas e agressivas antes de cometê-las, pois elas serão prejudiciais à nossa carreira e à nossa vida pessoal.
9.     Lembremos sempre e, principalmente, nos momentos de estresse, do motivo pelo qual ainda persistimos nesta bendita profissão: o pagamento das contas do mês, o dinheiro da prestação da casa, um carro novo, a viagem do final do ano, a escola dos filhos.
10.   Procuramos através da prece e da meditação, melhorar nosso contato com os alunos, ignorando suas provocações, pedindo forças para resistir à tentação de avançar em seus pescoços.
11.    Tenhamos firme a nossa decisão de controle e autodisciplina e reforcemo-la permanentemente. Sentiremos os benefícios da mudança aula após aula, dia a dia, ano após ano.
12.   Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a estes passos, procuremos praticar estes princípios em todas as nossas aulas até o momento de nossa abençoada aposentadoria.
O grupo de Professores Anônimos não oferece tratamento e é um movimento de ajuda mútua, inspirado ou orientado para o programa de recuperação daqueles que sofrem do mesmo mal.
                                                                                    
Um abraço
*Adaptação dos Dozes Passos dos AA



sábado, 4 de setembro de 2010

Ser ou não ser professor, eis a questão

No começo de sua carreira, o ator e grande dramaturgo inglês, Shakespeare, enfrentou dificuldades ao apresentar suas peças à plateia da era elisabetana. O público (composto por todas as classes sociais) que frequentava os teatros naquela época era muito ativo e participava intensamente da encenação: falava durante apresentação, vaiava, aplaudia ou interrompia as cenas e jogava coisas nos atores se não gostava do espetáculo.
Dessa maneira, Shakespeare criou cenas de ação permeadas de violência, de brigas e mortes logo no início de suas peças como forma de chamar a sua atenção. A estratégia funcionou tanto que o público corria para assistir suas apresentações e ficava tão curioso para saber o que iria acontecer depois na trama que não tirava os olhos do palco.*
Quando estamos na sala de aula, nós, professores, também esperamos um pouco de atenção da nossa plateia para declamarmos o nosso texto e realizarmos nossa belíssima performance. Por causa da sua falta de interesse, (quase sempre isso acontece) ficamos frustrados e desanimados, querendo sair o mais rápido possível do palco.
A nossa maior dificuldade é despertar o interesse nesta plateia. Por que nosso objetivo não é apenas diverti-la e entretê-la, temos a intenção de instruí-la, de fazê-la refletir sobre questões importantes e ela, infelizmente, raramente se interessa pela nossa atuação. Afinal, a maioria dos nossos espectadores não nos ouve; eles ficam o tempo todo dispersos, riem alto, conversam e levantam do lugar, gritam, xingam e batem uns nos outros.
Assim como Shakespeare, será que nós não teremos que criar outras estratégias para chamar atenção do nosso público? Será que não teremos que rever nossa performance para despertar o interesse nele? Ou vamos continuar lutando para não sermos vaiados e expulsos do palco?

Um abraço

*Referência de textos: “William Shakespeare no Teatro Elisabetano”, “O contexto teatral da dramaturgia shakespereana”.