terça-feira, 2 de novembro de 2010

Educação para todos?



Após assistir algumas palestras no Congresso de Educação do Sinpeem e discutir com alguns professores a respeito dos temas abordados, pensei sobre o que representa Educação hoje.

Especialistas falam da importância do profissionalismo e dedicação dos professores, de um ambiente escolar propício a aprendizagem, do nível educacional das famílias, é claro que todos esses fatores contribuem para melhorar a qualidade e eficiência do Ensino, mas será que esses fatores são realmente levados em consideração em nossas escolas?
Segundo eles, cabe ao professor a responsabilidade de construção de um espaço em que seja possível o pleno desenvolvimento da aprendizagem, a formação do indivíduo, a criação de relações interpessoais positivas e um ensino de qualidade. Garantem que as mudanças precisam ser feitas com base na vontade e esforço dos professores. Será que o que realmente falta é vontade e esforço dos professores? Será que sozinhos, nós conseguimos dar conta de todos os problemas da educação?
Um dos estudiosos utilizou a Finlândia, como um exemplo de país a ser seguido (é o primeiro colocado em matemática, em compreensão da escrita e em cultura científica no Pisa* 2003 e segundo colocado em 2006). No entanto, não podemos esquecer que este país investe numa educação de qualidade e oferece aos professores condições favoráveis de trabalho como formação de pelo menos 5 anos (sem contar que a maioria tem mestrado), boa remuneração salarial, jornada inferior a 40 horas semanais, apoio de pais e da comunidade. Além disso, os professores possuem a valorização social e prestígio entre os seus compatriotas. Não é compreensível que estes profissionais estejam mais motivados a ensinar? Será que os professores no Brasil possuem as mesmas condições de trabalho?
Alguns especialistas na área de Educação enfatizam a importância da Escola pública e gratuita, porque ela se compromete com a aprendizagem de todos os alunos de forma efetiva e democrática. Rompe com a ideologia e prática de competição e exclusão, atendendo a todos sem discriminação.  É o que realmente acontece em nossas escolas?
Garantir a matrícula dos alunos não é garantia de uma Educação de Qualidade. Será que a Educação que oferecemos é mesmo para todos? Quais serão as condições para trabalhar com todos estes alunos? Como melhorar a qualidade e eficiência do aprendizado num governo que faz uso da demagogia, principalmente em campanha política?
Acreditamos que temos poder de decisão e de mudança, mas, infelizmente, somos apenas peças nas engrenagens desta grande máquina, executamos invariavelmente regras e procedimentos padrões.
Educar não deixa de ser um ato político. Dizer ou propor algo que não pode ser posto em prática, apenas com o intuito de obter um benefício ou alguns votos já é outra história.
                                                       

Um abraço
                                                  
*Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) é um exame amostral, realizado a cada três anos pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O objetivo principal do programa é fornecer aos países participantes indicadores que possam ser comparados internacionalmente, de modo a subsidiar políticas de melhoria da educação. 




sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O Mito de Sísifo

Sísifo, por ter desobedecido às leis dos deuses, recebeu um castigo terrível. Todos os dias, ele deveria repetir a mesma tarefa: carregar uma pedra enorme e empurrá-la até o topo da montanha. A pedra caía na encosta abaixo e voltava. E assim, ele tinha que empurrá-la novamente. Um trabalho interminável.
E o nosso trabalho, como professor, não se assemelha com o de Sísifo?
Todos os dias tentando ensinar algo de valor aos alunos, mas quem se importa com o que você fala? Você precisa chamar a atenção dos alunos a todo instante, separar suas brigas, pedir silêncio, gritar para ser ouvido, implorar para eles fazerem a lição. E quando eles estão quietos, não prestam atenção ao que você diz.
Toda aula, sua paciência, tolerância e controle são testados. Você fica exaltado, nervoso, grita, tem vontade de correr e ir embora. Mas no outro dia, você precisa carregar a pedra novamente. E no outro também, no outro, etc.
Carregar a pedra da Educação e empurrá-la todos os dias é um trabalho incansável.  Para ser professor é necessário muito mais que amor à profissão, é necessário coragem, paciência, persistência, dedicação.
A todos os professores, parabéns por seu dia. Todos vocês são bravos e guerreiros, que lutam sem trégua nesse trabalho sem fim.

            Um abraço

sábado, 25 de setembro de 2010

Partida de xadrez

           Nós, professores, participamos de uma partida com a maioria dos lances já decidida.  As autoridades de Ensino definem as regras do jogo e as estratégias para ganhá-lo.
Como numa partida de xadrez, elas não mostram seus planos logo de início e cada jogada é calculada e importante na conquista de território e poder.
Desde os primeiros movimentos, visando benefícios individualistas e ganhos futuros, "provocam" o debilitamento de nossa defesa com ameaças indiretas, às vezes por imprudência, outras por não pensar nas consequências a longo prazo. 
Neste jogo, nós somos meros peões, soldados na frente da batalha e nossos destinos são determinados por esses interesses, pouco importando se com isso nossas vidas serão mexidas e reviradas pelo avesso.  
Nossos passos são demarcados, somos pressionados e atacados como forma de diminuir nossa força. Programados para acatar e seguir as ordens, seremos aos poucos engolidos pelo sistema. De mãos atadas, sem poder de intervenção.
O que devemos fazer para reverter esta situação?
Não devemos perder esta oportunidade para lutar por várias razões: Primeiro: reunir nossas forças e agir em conjunto, cada um se apoiando no outro, pois só assim conseguiremos resultados significativos. Segundo: Não vamos recuar nem nos retirar do jogo. Não deixaremos nos intimidar pelo ataque do adversário. Terceiro: Devemos defender o nosso espaço com unhas e dentes. Não podemos admitir que decidam as nossas vidas de maneira tão leviana.
Esta é a melhor estratégia de se jogar porque se não arriscarmos nada, não conseguiremos obter nem, no pior dos casos, um empate.

             Um abraço
                                          

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Os Dozes Passos dos Professores Anônimos

Algumas vezes (ou muitas vezes), nós, professores, perdemos o controle sobre nossas emoções e ações quando estamos em sala de aula. A nossa paciência e tolerância (já no limite) se esgotam e temos vontade de xingar, bater, socar, esganar o primeiro que nos tira do sério. 
Para resolver essa situação, existe um Programa de Recuperação de Professores Anônimos constituído de Doze Passos* ou atividades pessoais. Estes "passos" incluem a admissão de que existe um problema, a busca de ajuda, autoavaliação, reparação de danos causados e o controle emocional.
Antes de agirmos de maneira impulsiva e agressiva, lembremos de seguir os doze passos:
1.      Em primeiro lugar, admitimos que somos impotentes perante a indisciplina escolar  e que perdemos o domínio sobre nossa sala de aula.
2.     Viemos a acreditar que somente um Poder superior a nós mesmos poderia devolver-nos à sanidade visto que o poder do Revotril, Fluxotina e Lexotan não estão mais resolvendo.
3.     Decidimos entregar nossa sala aos cuidados de Deus ou na ausência Dele, do Agente Escolar, do Coordenador Pedagógico, do Diretor, dos Guardas Metropolitanos ou de quem conseguir controlá-la.
4.     Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos na hora da raiva, do desespero e da angústia.
5.     Admitimos perante nós mesmos e perante o Coordenador Pedagógico, Diretor, Supervisor a natureza exata de nossas falhas, de nossa incompetência no planejamento de nossas aulas.
6.     Prontificamo-nos inteiramente a manter distância segura de todos esses objetos (apagador, giz, caneta, objetos cortantes e pontiagudos) no momento da raiva e do desespero a fim de não lançá-lo como arma.
7.     Humildemente rogamos a Ele que nos livre de nossas imperfeições e nos dê paciência, tolerância, persistência, calma e serenidade em todas as horas de tensão e angústia e, principalmente, nas duas aulas seguidas com a mesma turma.
8.    Pensemos diariamente nas consequências desastrosas de nossas ações impulsivas e agressivas antes de cometê-las, pois elas serão prejudiciais à nossa carreira e à nossa vida pessoal.
9.     Lembremos sempre e, principalmente, nos momentos de estresse, do motivo pelo qual ainda persistimos nesta bendita profissão: o pagamento das contas do mês, o dinheiro da prestação da casa, um carro novo, a viagem do final do ano, a escola dos filhos.
10.   Procuramos através da prece e da meditação, melhorar nosso contato com os alunos, ignorando suas provocações, pedindo forças para resistir à tentação de avançar em seus pescoços.
11.    Tenhamos firme a nossa decisão de controle e autodisciplina e reforcemo-la permanentemente. Sentiremos os benefícios da mudança aula após aula, dia a dia, ano após ano.
12.   Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a estes passos, procuremos praticar estes princípios em todas as nossas aulas até o momento de nossa abençoada aposentadoria.
O grupo de Professores Anônimos não oferece tratamento e é um movimento de ajuda mútua, inspirado ou orientado para o programa de recuperação daqueles que sofrem do mesmo mal.
                                                                                    
Um abraço
*Adaptação dos Dozes Passos dos AA



sábado, 4 de setembro de 2010

Ser ou não ser professor, eis a questão

No começo de sua carreira, o ator e grande dramaturgo inglês, Shakespeare, enfrentou dificuldades ao apresentar suas peças à plateia da era elisabetana. O público (composto por todas as classes sociais) que frequentava os teatros naquela época era muito ativo e participava intensamente da encenação: falava durante apresentação, vaiava, aplaudia ou interrompia as cenas e jogava coisas nos atores se não gostava do espetáculo.
Dessa maneira, Shakespeare criou cenas de ação permeadas de violência, de brigas e mortes logo no início de suas peças como forma de chamar a sua atenção. A estratégia funcionou tanto que o público corria para assistir suas apresentações e ficava tão curioso para saber o que iria acontecer depois na trama que não tirava os olhos do palco.*
Quando estamos na sala de aula, nós, professores, também esperamos um pouco de atenção da nossa plateia para declamarmos o nosso texto e realizarmos nossa belíssima performance. Por causa da sua falta de interesse, (quase sempre isso acontece) ficamos frustrados e desanimados, querendo sair o mais rápido possível do palco.
A nossa maior dificuldade é despertar o interesse nesta plateia. Por que nosso objetivo não é apenas diverti-la e entretê-la, temos a intenção de instruí-la, de fazê-la refletir sobre questões importantes e ela, infelizmente, raramente se interessa pela nossa atuação. Afinal, a maioria dos nossos espectadores não nos ouve; eles ficam o tempo todo dispersos, riem alto, conversam e levantam do lugar, gritam, xingam e batem uns nos outros.
Assim como Shakespeare, será que nós não teremos que criar outras estratégias para chamar atenção do nosso público? Será que não teremos que rever nossa performance para despertar o interesse nele? Ou vamos continuar lutando para não sermos vaiados e expulsos do palco?

Um abraço

*Referência de textos: “William Shakespeare no Teatro Elisabetano”, “O contexto teatral da dramaturgia shakespereana”.



domingo, 29 de agosto de 2010

Kit de Sobrevivência


Nesta época do ano, as mudanças climáticas têm favorecido o aparecimento de doenças respiratórias como resfriados, gripes, pneumonias, bronquites, rinites e sinusites. Entre os sintomas estão dor de garganta, rouquidão, tosse, coriza.
São frequentes as queixas de muitos professores que têm sofrido com essas doenças e têm visto sua capacidade e rendimento diminuírem muito.
As condições adversas de trabalho, o desgaste físico e o cansaço mental contribuem para a baixa imunidade e resistência do professor e facilitam o seu adoecimento e afastamento da sala de aula.
Mas o que deve ele fazer para contornar estes contratempos?
Para reduzir os fatores de riscos presentes no ambiente de trabalho, será preciso desenvolver a cultura da "adaptação”, o professor deverá estar munido de um kit de sobrevivência.
Será necessário um kit sobrevivência para sobreviver a estes dias terríveis: um par de óculos de sol, um gravador, fones de ouvido e mp3/rádio, bolsa térmica e analgésicos, cartolinas e canetinhas.

  • Para evitar o contato com a luz solar e ignorar a bagunça que os alunos fazem durante a aula, um par de óculos de sol.
  • Devido as dimensões e acústicas inadequadas em sala de aula, será necessário um gravador com as aulas do dia previamente gravadas a fim de evitar o uso excessivo da voz do professor e irritar ainda mais as suas cordas vocais.
  • Fones de ouvido e um mp3 ou rádio para evitar o estresse e não ter que aguentar diariamente o nível elevado de ruído na sala de aula.
  • Uma bolsa térmica e analgésico para aliviar as dores de cabeça.
  • Cartolinas e canetinhas a fim de evitar a escrita excessiva no quadro negro e exposição ao pó de giz.

É claro, que esse kit serve apenas para minimizar os incômodos sofridos. Bom mesmo seria se restabelecer em casa sem ninguém te enchendo o saco. Mas infelizmente nem todo mundo consegue licença médica toda hora e ninguém quer levar uma justi* sem aviso.

Um abraço


*falta justificada - a ausência é apenas justificada para que se evite aplicação de penalidade ao funcionário, mas ela não inibe o direito da direção (caso da escola municipal) de proceder com o desconto visto que não se tem comprovação da doença mediante atestado médico. 


domingo, 22 de agosto de 2010

Pérolas dos alunos

Às vezes, é realmente difícil estar numa sala de aula. Muita cobrança e pressão de um lado e desinteresse e indiferença do outro. Mas nem só de problemas e tristezas vive um professor. 


Existe um espaço também para a diversão. 
Às vezes, nos deparamos com algumas situações e respostas tão absurdas, que chegam a ser engraçadas e, assim, não resistimos e caimos na risada. Neste sentido, os alunos realmente se esforçam. 


A seguir algumas respostas dos meus alunos que são verdadeiras pérolas:




Duas semanas atrás, estava explicando um exercício sobre adjetivos para uma turma do Noturno, quando um aluno me interrompeu:

- Professora, está escrito Ladi Di? - falou carregando no sotaque cearense.

- Sim, mas a pronúncia é Leidi Dai. Está escrito em inglês.

- Ah, tá.

- Você não conhece a Lady Di?

- Eu não. Só conheço a Lady Gaga.


...


Outro dia, estava corrigindo os exercícios oralmente na lousa e perguntava a resposta para a classe.

- Qual é o feminino de boi?

- Vaca. - todos responderam.

- De homem?

- Mulher.

Um aluno levantou a mão e perguntou:

- Professora, qual o feminino de queijo?

- A palavra queijo não tem feminino.

- Ah! Pensei que fosse queijoa.


...


Numa noite, ao explicar os diferentes tipos de sujeito, dei o seguinte exemplo:

- Roubei uma torta de maçã da geladeira. Quem foi que roubou?

Um aluno dá uma piscada para mim e diz:

- Ê, professora! Coisa feia! Ficar roubando comida da geladeira!



...



Semana passada, estava explicando sobre os tipos de narradores que podemos encontrar nas narrativas, perguntei para a turma:

- Como se chama o narrador que não participa da história e conta sobre a vida das personagens?

- Zé Povinho, professora! - um aluno respondeu.



...


Estava trabalhando contos com a 5 série semana passada. Um grupo de meninos estava estava criando um conto, fui conferir como eles estavam desenvolvendo a história. Ao olhar o texto, percebi alguns erros de ortografia e falei:

- Vocês escreveram trouxe com cê.

- É que o xis dele é aleijado, professora. Tá faltando uma perninha. - um aluno respondeu.





E eu pensei na famosa frase do Professor Raimundo: E o salário...






sexta-feira, 13 de agosto de 2010

E o circo está armado!


Nós, como professores, enfrentamos diariamente a triste realidade da Escola Pública: as precárias condições de trabalho, jornadas diárias muito longas e exaustivas, a falta de recursos, a desvalorização como profissional, funcionários e professores descontentes e mal remunerados, alunos indisciplinados e agressivos, entre outros. Essa negligência demonstra claramente o descaso e a falta de conscientização dos governantes.

Os fatos são considerados alarmantes, se levarmos em conta, a repetição contínua dessa prática e a não intervenção de maneira eficaz.

Quem hoje, em sã consciência, quer se aventurar e encarar essa realidade?

Espera-se que possamos dar conta das graves questões que envolvem a escola hoje. Mas eu me pergunto de que maneira?

O descaso e desrespeito que enfrentamos são tão grandes que nos sentimos desmotivados a continuar a trabalhar. É tão cômodo jogar as responsabilidades nos ombros dos professores e chamar-nos de incompetentes por não conseguirmos fazer nosso trabalho direito. Somos jogados na jaula dos leões e nos vemos obrigados a “domá-los” na marra.

A política do circo realmente funciona para o marketing pessoal de candidatos e para campanhas políticas, mostram-se os dados positivos e os resultados obtidos ao longo da gestão, mas poucos veem o que há por trás disso. Cobrar o ingresso pelo espetáculo e gozar do “sucesso” é sempre mais fácil e interessante do que resolver a raiz dos problemas.

E nós somos feitos de palhaços enquanto riem e debocham da nossa cara. Caminhamos às tontas sem rumo e perspectiva, de mãos atadas. Andamos na corda bamba e não temos uma rede de segurança que nos proteja.

Contamos apenas com nós mesmos. O resto são palavras jogadas ao vento. Discursos bonitos que foram feitos para impressionar os eleitores no palanque. Promessas que não serão cumpridas, porque não se quer arrumar e pôr ordem na casa. Para muitos, a única coisa que sabemos fazer é reclamar. E de barriga cheia!